Assim, a frio e de repente, digo: ainda bem que estás a terminar, quero que vás embora, foste um ano terrível.
Mas depois e porque nunca conseguirei ficar apenas com essa primeira impressão, percebo que talvez até nem tenha sido tão mau, aliás, até foi um bom ano. Foi só diferente daquilo que eu esperava, o que me fez aprender, de uma vez por todas, que nada é garantido, nem está reservado. Não somos árvores e aí está a beleza da vida, que flui, te sacode, te tira a poeira e te demonstra que não podes estagnar, só quando morreres. 2016 afinal foste tão bom para mim, levaste tudo o que não pertencia na minha vida e estás a mostrar que tudo tem o seu lugar e o seu tempo.
2016 o ano em que subi dois degraus em busca de um sonho e subir degraus, sentir que estás mais pertinho, é do caraças. Dependes de ti, da tua força, da tua mente, e no final és invadida por um turbilhão de emoções que só não saltam pelos olhos pois tens pessoas a olhar para ti.
2016 poderias ter sido mau se permitisse deixar-me invadir pelos sentimentos menos bons, pelas emoções negativas, mas pelo contrário, acho que foi o ano em que percebi que adoro a fibra de que sou feita.
Foi o Verão mais livre e bonito dos últimos anos. A segurança dos 30 em cima dos saltos altos em noites quentes, a sensação de liberdade que a música te proporciona, a companhia que queres perto de ti, sempre.
Sou feita de afectos e rodeada de boas pessoas. Rodeada de pessoas tão bonitas que sempre que penso nelas o orgulho e a gratidão que sinto deliciam-me. Hoje, a 10 dias do final do ano pelo qual ansiava há muito, posso dizer: não mudava nada! Nada! Não viajei tanto quanto queria, mas por isso mesmo vou entrar em 2017 a visitar a cidade e uma das minhas pessoas favoritas. Não tenho o corpo que ambiciono, porque comi tudo o que quis e fiz todo o exercício que não quis. Não li tudo o que quis, mas vi todas as séries e mais algumas. Não corri a maratona, mas corri em busca do melhor Hambúrguer do Porto. Todos esses "nãos" eu também não mudava.
Agora, venham daí as festas, o melhor Natal de sempre (que acontece todos os anos), o final do ano e um 2017 de mão dada com quem me faz acreditar que sorrir e acreditar nas voltas ou conspirações do universo é a lei mais bonita de todas. Obrigada Vida por seres tão bonita.
Não quero alguém que tenha de estar sempre perfeito. Que siga protocolos e não desabotoe o casaco.
Quero alguém que não tenha medo do ridículo.
Que alinhe nos meus devaneios e quando digo "vamos" me diga "já devíamos ter ido".
Quero alguém que me faça sonhar, mas que me faça ter os pés bem assentes na terra. Sem filtros, sem máscaras, sem ter de ser, ter de dizer, ter de fazer.
Quero alguém que me queira tal como sou, por inteiro. Com virtudes, defeitos, pancas e manias.
Quero alguém que dance, dance na rua, dance no bar, dance onde quer que seja.
Quero alguém que coma, tanto ou mais do que eu, e que sinta que isso é sem dúvida um dos maiores prazeres da vida.
Quero alguém que me aceite. Que saiba que não tenho sempre o cabelo ou as unhas perfeitas e nem eu sou perfeita.
Quero alguém que sonhe e que lute, sem nunca esquecer de onde veio, quem lhe quer bem, e ainda menos para onde quer ir.
Quero alguém que saiba o que quer e não desista até conseguir.
Quero alguém que venha e que fique!
Com a certeza de que não será a minha metade, porque eu sou inteira!
De joelhos esfolados, meias rasgadas e cabelo sempre à frente dos olhos, despenteada.
De sorriso no rosto, mão na anca, unhas sujas de terra e sempre pronta para o disparate.
Com palavrões na ponta da língua só à espera da oportunidade para saltarem e sem medo da discussão com as primas, entre gargalhadas e puxões de cabelo, lá nos entendíamos. (Ou então os adultos separavam, quando a Catarina mordia e não conseguíamos que tirasse os dentes).
Com saltos altos da madrinha pelos corredores, telefonemas endiabrados, banhos no tanque e Pisang Ambon às escondidas.
Com férias sempre na mesma praia e com as mesmas pessoas.
Medos de palhaços, do escuro e de morrer.
Tão pequenina e já com medo de morrer, por gostar tanto de viver.
Uma menina tímida na escola, uma menina arisca em casa.