Desde há uns dias para cá que a tua imagem me vem à memória. Assim, sem mais, nem porquê. Vejo a tua cara. De repente e sem contar.
Não sei onde estás, nem sei como é. Sei que te imagino bem, ao pé do avô Gaspar e de vez em quando com os meus Vozinhos. A minha Vozinha talvez ande a varrer o chão, ou a lavar a loiça com um pano, como sempre a vi fazer. Pede-lhe que faça frango assado, era mesmo bom. Ou então batatas fritas com chouriço e ovo estrelado, também era.
Espero que estejam bem aí, em cima, ou em baixo. Não sei.
Sei que gostava de te abraçar. De voltar a ver-te.
Sei que és a minha mulher modelo. Mesmo com diferenças de gerações. Mesmo com pensamentos mais ou menos antiquados. Mas na fibra, foste sempre a melhor. Aliás, até na forma como decidiste ir embora, foste a melhor. Sem dor. Como tantos gostavam. Tu conseguiste.
Acho profundamente dececionante as nossas pessoas morrerem. Acho que não devias morrer.
Não sei o que é perder um marido, como a avó soube. Mesmo com mais de 50 anos juntos, foste a mais forte. A rocha. O pilar. A comandante deste navio com tantos tripulantes.
Sempre soubeste comandar.
Como sempre soubeste amar e aceitar os outros, mesmo que diferentes.
Não julgavas. Aceitavas, porque era família.
Nisso, sou como tu. Aceito. É sangue.
Tenho muitas coisas para contar. Mas acho que não preciso. Porque acho que sabes tudo o que vivo.
Gostava de voltar a ver-te, no banco do salão da Tia Júlia, ou no banco da cozinha, de pijama à espera que o meu pai voltasse de Angola.
Isto tudo, só para te dizer: tenho muitas saudades!
Fosse eu investigadora, cientista ou sei lá o quê, que inventava um detetor de objetos obrigatório para as criaturas.
Cenário:
05h30 da manhã.
Pessoa do sexo masculino, por motivos profissionais, tem de levantar-se a essa hora.
Como se não bastasse o facto de ter de colocar 987 despertadores, de forma a acordar a vizinhança, decide ir tomar banho.
Pois muito bem, que a pessoa é asseada.
Mal entra no banho decide gritar em plenos pulmões: "onde está um shampôôô?"
Claro que não pensou nisso antes de entrar no banho.
Melhor mesmo é fazer com que a criatura do sexo feminino tenha de sair da cama, para lhe dar o shampô, que só por acaso estava mesmo ali ao lado.
Continua no seu banho.
Decide ligar o secador. Toda a gente sabe que 05h45 é a melhor hora para ligar o secador.
Não bastando as mencionadas proezas, começa a vestir-se e decide procurar umas calças, isto é, as que tinha ali à mão, por acaso também azuis e bem semelhantes às que pretendia, não podiam ser.
Como é óbvio tinham de ser outras, aquelas que não encontra.
Vai daí decide iniciar o mimimi "não sei das calças, isto aqui em casa tem pernas, onde estão as calças e mimimimi".
Pessoa do sexo feminino, como não consegue voltar a adormecer pergunta: "quais calças são?"
Resposta: "as azuis."
"Então mas não podem ser essas?"
"Não, mas deixa-te estar".
Criatura masculina continua na busca das calças perdidas, sem sucesso.
Como é fácil de prever, o que acontece?!
A miúda (uma jovem portanto) tem de levantar-se da cama e em 1 minuto encontra o raio das calças.
Mas eu pergunto, alguém merece?!
Será assim tão complicado procurar aquilo que pretendem sem incomodar as outras pessoas?!
Principalmente se forem 06 da manhã?!
Por favor, se alguém souber onde se compra esse detetor, avisem-me. É uma boa ação que fazem.
Engraçado como os anos pares têm sido de mudanças. Radicais. De planos, de sonhos e de vida.
Se 2016 foi realmente avassalador, 2018 não ficou atrás.
A coragem que se mostrava enjaulada, decidiu passear. Tão bom que foi. Dizer "acabou". Chega de ser suprimida. De engolir sapos vivos. De aturar má educação. Aquilo que em linguagem bem portuguesa é ser ____ e mal paga.
As asas reiniciaram a sua função. Voei. Voei para fora do ninho, para lá da serra.
Sempre fui mandona e para cá do Marão mandam os que cá estão.
Eu estou. Não sei até quando, mas estou. Crio o meu próprio ninho. E a trabalheira que dá.
2018 foste mais solitário. Com algumas falhas a nível de amizade. Ou melhor, com algumas ausências ou falta de presença física. Isto das redes sociais e da sensação falsa de proximidade, é uma treta.
2018 trouxeste o meu amor mais pequenino. Loiro. Sorridente. Fofo. Que se abana com a Dona Maria e faz "ah ah" quando quer dormir.
2018 terminaste com uma grande, grande felicidade.